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Por Thiago Augusto de Carvalho Cruz*

A eleição de Jair Bolsonaro em 2018 foi marcada pela propagação de mentiras (chamadas de fake news nos dias atuais) que foram determinantes para fulminar os concorrentes no certame presidencial, sobretudo os do campo progressista. Tais mentiras se baseavam em teses fomentadoras de um ódio camuflado de oposição honesta frente às práticas definidas como pecaminosas à luz do pensamento religioso e, consequentemente, aviltantes a moral e bons costumes em uma sociedade supostamente tradicional.

Contudo, pelo que está sendo investigado e comprovado pelas polícias, ministérios públicos, parlamentos, judiciário e até pelos gestores das redes sociais mais acessadas no mundo, a sabotagem ao processo democrático passou por um grande esquema fraudulento com o fim precípuo de demonizar adversários de Bolsonaro, notadamente, influenciando os religiosos adeptos do cristianismo, em sua maioria, evangélicos e católicos. Cumpre ressaltar, que por ocasião da pandemia do Novo Coronavirus (COVID-19), Bolsonaro e seus simpatizantes, religiosos ou não, exerceram um papel consciente na disseminação de fake news, inclusive através da recomendação do uso de medicação ineficaz, menosprezo aos imunizantes (vacinas) e críticas infundadas às orientações de prevenção ao contágio, estas mundialmente defendidas pelos órgãos científicos competentes.

Ademais, é de conhecimento geral o envolvimento e afeição da família do presidente da República com pessoas de reputação duvidosa, como Fabrício Queiróz (do caso de “rachadinhas” em gabinetes parlamentares), Adriano da Nóbrega (do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes), Allan dos Santos (gestor na veiculação de notícias falsas em seu canal no Youtube), deputado federal Daniel Silveira (propagador de ataques ao Estado Democrático de Direito e ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal), dentre outros. Atualmente, nem a pauta do patriotismo socorre os bolsonaristas, mas também pudera! Reiteradas manifestações de apreço ao imperialismo norte-americano, continência a bandeira dos EUA e bajulação com juras de amor ao ex presidente Donald Trump, constrangeram sobremaneira nossa Nação.

Pois bem. Diante dessas irrefutáveis constatações, me questiono: Como alguém minimamente razoável pode aderir às idéias e práticas do bolsonarismo? E a pessoa que se diz seguidora de Cristo, em que pode se motivar para votar em Jair Bolsonaro? Na Bíblia Sagrada, considerada como o livro do cristianismo por excelência, podemos encontrar algumas respostas que permeiam essas nefastas hipóteses.

Primeiramente, se considerarmos que o descrito no texto bíblico, especificamente em Hebreus 10:26-27, que diz “Porque, se pecarmos voluntariamente, depois de termos recebido o conhecimento da verdade, já não resta mais sacrifício pelos pecados, Mas uma certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo, que há de devorar os adversários.”, o bolsonarista irredutível estará caminhando para um desfecho de sofrimento e angústia em sua existência terrena. Prova disso, foram os milhares que pereceram em razão da COVID-19, pagando com a própria vida por imitar o negacionismo do presidente, seja ignorando as medidas de cautela ou não se imunizando com a vacina, ainda que tardia. Logo, se houve engano, é preciso buscar a correção através da sabedoria, pois o tempo pode estar se esgotando.

Mas, se considerarmos que há uma espécie de idolatria em torno da figura de Bolsonaro, a situação se agrava ainda mais para o dito cristão. Pelo diagnóstico bíblico, não há excludente de ilicitude que salve o idólatra. Com efeito, ordena de forma intransigente, o livro de Deuteronômio 5:8 que “não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra ou nas águas debaixo da terra.”.

Por último, percebe-se uma conveniente relativização ou esquiva oportunista aos princípios cristãos como justificativa para a manutenção do bolsonarismo no poder. Ora, se a síntese do amor de Cristo pelo mundo, encontra-se estampada no livro de João 3:16, “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”, como se pode minimizar impactos na sociedade ou legitimar a ocorrência de práticas racistas, machistas, violência a população LGBTQIA+, intolerância às diversidade religiosa, preconceitos com índios, quilombolas, orientais e outros grupos humanos? De que adianta cantar alto nas missas que “prova de amor maior não há, que doar a vida pelo irmão”, se a simples presença de um casal homoafetivo no ato eclesiástico causa aversão por meio de olhares e até comentários recriminadores? Absolutamente, nada disso tem a ver com a fé cristã!

Portanto, para quem crê que Jesus Cristo é o filho de Deus encarnado, que vagueou pela Terra advogando o amor como única verdade e que concorda que um julgamento alheio precede de uma boa análise de consciência própria, sob pena de não fazê-lo, tem plenas condições de perceber que Jair Messias Bolsonaro é inepto como político e uma fraude como cristão, pois não consegue sequer se decidir entre cultuar Nossa Senhora Aparecida e pedir bençãos a Silas Malafaia.

Por fim, espero que daqui pra frente sejamos mais “Marias Madalenas” na resistência contra uma elite de fariseus tóxicos que habita na igreja brasileira e que em 2022, a verdade genuína liberte o nosso povo de todo o mal! A esperança vencerá!

Que assim seja.

“Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor.” (1 Coríntios 13:13)

Referência:

BÍBLIA. Apocalipse. Português. In: A Bíblia sagrada: antigo e novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Brasília: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.

*Thiago Cruz é Advogado, sindicalista e membro do Comitê Municipal do PCdoB – BH

Foto: Brasil de Fato MG